terça-feira, 8 de abril de 2014

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EM CD, MARIA RITA MATA SAUDADE DO SAMBA

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Maria Rita matou a saudade do samba com o novo CD Coração a Batucar. Disponível nas lojas a partir desta terça-feira (8), o álbum, na opinião da cantora, é a continuidade de uma declaração de amor feita ao ritmo com o disco Samba Meu, lançado sete anos atrás. Coração a Batucar é uma evolução, mais livre, com sonoridade da década de 1950, diz a artista. Tem faixas de samba com guitarra, de samba mais triste, de samba tocado com a palma da mão. E várias que fazem a artista chorar. A filha de Elis Regina e mãe de Antonio, de 9 anos e Alice, de 1 ano, se emociona especialmente com a música Mainha Me Ensinou, escrita pensando nela.

Recuperando-se de uma cirurgia de hérnia umbilical, Maria Rita se prepara aos poucos para o início da turnê pelo País, que começa no dia 12 de abril, em Lorena (SP) e vai incluir cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Os fãs que se preparem para “muita coisa boa” nos shows. “O público pode esperar muita bolha no pé, maquiagem derretida, sapato furado, sair melecado do show”, diz a cantora.

Confira a entrevista:


Terra - Você passou por uma cirurgia de hérnia umbilical recentemente. Como é que você está de saúde?
Maria Rita - Estou há mais de um mês dormindo sentada, porque não posso esticar a barriga. Já posso fazer atividade física e cantar. Estou fazendo exercícios de respiração para acostumar o corpo. Não tive muita coragem de cantar ainda, tenho cantarolado e está tudo bem. Estou um pouco apreensiva com o momento de volta dos ensaios, mas acho que vai dar tudo certo. O primeiro show da temporada é dia 12 de abril e os ensaios começam dia 1º de abril. Teve um dia que fiz um exercício de respiração abdominal, doeu um pouco, e não forcei. Mas vai dar tudo certo. Não é um bicho de sete cabeças, mas é uma cirurgia de cinco horas. Incha. O inchaço está diminuindo aos poucos. Mas a atividade de voltar ao palco vai auxiliar.

Terra - Coração a Batucar  é um disco que faz uma reverência ao samba?
Maria Rita -  - A reverência ao samba foi com Samba Meu, que foi o primeiro passo nessa seara dos sambistas que sempre admirei muito, escutei muito.Com Coração a Batucar já é quase que o meu ambiente. Com o Samba Meu eu já mostrei a minha declaração de amor, o samba que eu gosto de ouvir e fazer, como é que eu vivo o samba. Coração a Batucar é quase uma continuidade disso, porque ele vem livre dessa minha gana de mostrar essa paixão com o samba. Essa liberdade está expressa na formação da banda, na sonoridade mais próxima da sonoridade do samba da década de 1950, quando você ainda não tinha o violão de sete cordas e o cavaquinho como elementos marcantes.
Terra - O disco tem samba com guitarra, samba com palma da mão. Você se preocupava em fazer um disco com todo “tipo” de samba?

Maria Rita - Não. Foi acontecendo. Eu ia recebendo o repertório e enviava para o Jota (Moraes, arranjador). A gente montava no estúdio. Alguns arranjos a gente fez na hora, a coisa da palma na mão, por exemplo, foi na hora. Em outras músicas, eu sentia que tinha uma coisa mais para o grave, a melodia já mostrava isso.


Terra - Quando você pensou em fazer o CD, você já sabia que tinha que ser de samba?
Maria Rita - Essa frase de “tem que ser um disco de samba” aconteceu depois da minha apresentação no Rock in Rio, em que tive repertório de samba com Gonzaguinha. Eu já vinha de um sofrimento saudoso de Samba Meu desde que a turnê encerrou. Eu chorava e pensava “o que vai ser de mim agora?”. E com o lance do Rock in Rio, explodiu essa necessidade. Eu ainda estava indecisa em relação ao que fazer no próximo trabalho, mas depois de tudo que rolou no palco, eu falei “preciso fazer mais um”. Tanto que se me perguntam se eu penso em largar o samba no próximo, eu digo que eu considero não largar mais o samba, assumir e seguir com isso. Não é uma decisão que eu tomei ainda, mas não pode ser descartado, porque é uma ligação bem forte que eu tenho.

Terra - Você diz em uma das músicas: “eu não nasci no samba, mas o samba nasceu em mim”. Como é a sua relação com o samba?
Maria Rita - Essa frase explica bem, mas na mesma música tem uma frase que é “Quer me fazer feliz, vem me fazer sambar”. Eu tenho lembrança da infância, sentada no chão vendo escola de samba passar e eu ficava maravilhada com aquela beleza e alegria contagiantes. E mais tarde, quando eu entendi que as pessoas viviam daquilo, me arrebatou, porque eu tenho essa coisa de comprometimento e entrega e eu me identifiquei com aquela gente, por causa da realidade de comprometimento. Na década de 1990, eu ouvia samba no walkman até furar a fita. Era engraçado, porque meus amigos da escola ouviam música americana e inglesa e iam para matinê no sábado à tarde dançar música gringa e eletrônica. E eu gostava de samba, jazz e MPB. Eles falavam “você é legal, mas você é esquisita”.

Terra - Você se considera uma sambista?
Maria Rita - Uma vez eu e o Arlindo (Cruz) conversamos e ele disse “li numa entrevista que você não se considera sambista. Você é sambista sim. Você não vive do samba? Você é mais sambista do que muito sambista”. E aquilo me marcou muito. Foi uma bronca do bem que ele me deu. E acho que eu sou. Quando as pessoas me chamam de sambista eu me sinto muito honrada. Eu tenho essa consciência do inconsciente coletivo da importância que o samba tem para a identidade nacional, de toda a história do samba. Ser admirada pelo que eu faço com o samba é de muita honra para mim.

Terra - Há sete anos você lançou seu primeiro trabalho integralmente dedicado ao samba, Samba Meu. Você considera Coração a Batucar uma volta ao samba?
Maria Rita - Não. Entendo que quem está de fora veja assim, mas não sinto dessa forma. “Samba Meu” teve uma força grande na minha vida, me levou a muitos lugares fisicamente que eu não tinha ido, mas eu continuei vivendo o samba dentro de mim no meu dia a dia, só que eu não fazia samba. Mas nos shows tinha samba, mesmo em “Redescobrir” tinha samba. Foi mais uma necessidade do que uma volta.

Terra - Como Coração a Batucar dialoga com Samba Meu, além do fato dos dois serem discos de samba?
Maria Rita - Eles são uma continuidade um do outro, uma evolução um do outro. Um chegou com um facão na mão e o outro veio depois, como um bloco que está na rua. Um não anula o outro, eles contam uma história.

Terra - Como foi a escolha das músicas?
Maria Rita - Alguns compositores mandaram música para mim, pensando na minha história, no que eu falo, pensando na minha voz. Foi o caso de Meu Samba, Sim, Senhor, em que, numa conversa com o Marcelinho Moreira, falei da saudade que eu tinha do samba. O Arlindo Cruz e o Rogê escreveram É Corpo, É Alma, É Religião pensando em mim, falando do samba de São Paulo e do Rio. Eu fui madrinha da Vai-Vai em São Paulo, do Cordão do Bola Preta no Rio, desfilo no Império Serrano, na Mangueira. Eles sabem que para mim não tem muita demarcação de território. Além disso, a gravadora entrou em contato com alguns compositores e eu procurei os amigos que fiz ao longo dos anos (em busca de músicas). O Rodrigo Maranhão, por exemplo, me mandou um infinito de sambas. Foi fácil e rápido. Comecei em outubro e em 19 de novembro estava começando a gravação.

Terra - A faixa Mainha Me Ensinou (escrita por Arlindo Cruz e Xande de Pilares) foi uma encomenda que você fez?
Maria Rita - Não. O Xande nem sabia que essa música estava comigo. Ouvi e me identifiquei demais. Eu vinha de um ano e meio cantando o repertório da minha mãe e eu identifiquei essa mainha que ensina, guia, dá colo, preocupada com a natureza. Me identifiquei por causa da minha filha, do meu casamento. Chorei horrores para gravar.

Terra - Que tipo de mãe você é? É leoa, é mais tranquila?
Maria Rita - Sou muito leoa, ciumenta, preocupada. Não passo a mão na cabeça. Minha preocupação é com o ser humano, no que é que essas pessoinhas vão se transformar no futuro. Se eu não estiver mais aqui, eles vão saber lidar com a vida ou não? Cada um tem uma personalidade e eu fico respeitando o meu instinto. Ser mãe  sem ter tido mãe não é uma tarefa muito fácil. Mas Deus me deu instinto, Deus deu para as mulheres instinto materno, que guia. Sou brava, ponho regra e depois pego no colo.

Terra - O seu filho Antonio (de 9 anos) participou do CD. Como foi?
Maria Rita - Ele gosta de estar perto. Na gravação do segundo disco, eu fazia ele dormir dentro do estúdio, com uma música favorita dele. Depois a babá levava ele para dormir. Um dia, numa pausa para o café, o André (Siqueira, percussionista) estava mostrando os instrumentos para ele e ele começou a brincar. E aí ficou aquela brincadeira de “vai gravar”, ele olhou para mim e eu disse “vai”. E foi um barato. Cobrou cachê e tudo.

Terra - Você pagou o cachê?

Maria Rita - Lógico. Não posso falar qual foi, se não ele me mata. (risos). Foi uma música relativamente simples, mas ele é muito musical. E eu faço tudo que eu posso para estimular, porque ele gosta.


Terra  - Como foi o clima da gravação no estúdio?
Maria Rita - Todo mundo ali ou é amigo de todo mundo ou é fã de longa data. Com essa admiração, carinho e respeito mútuo de todos, não tem ego nem arrogância. Foi muito fácil e rápido. Foi um clima de amigos. Também agrega o fato de ter sido gravado ao vivo, porque se um músico não estava gostando daquele jeito, todo mundo parava e fazia de novo. Isso tira um pouco da impessoalidade de cada um gravar em uma determinada hora, que acontece em alguns casos. O “ao vivo” cria uma camaradagem, todo mundo faz até ficar bom para todo mundo. E tem a emoção do momento. Tem uma mágica que acontece ali.

Terra - Você preferiu não corrigir algumas imperfeições durante a gravação de algumas músicas. Por quê?
Maria Rita - Me cansa essa coisa perfeita e quase hospitalar dos discos de hoje. Ninguém é tão perfeito e afinado em 100% do tempo. As pessoas se emocionam. O samba, aliás, a música mexe com as pessoas. Alguém está passando por um momento delicado da vida, escuta uma música e salva. Recebo muitas cartas sobre isso, de gente que fala “o seu trabalho me deu coragem de seguir com meu sonho”, ou de “o seu trabalho me deu coragem de retomar contato com o meu pai”. Você não pode tratar a música como se ela fosse um botão na tela de um computador. Tenho uma espécie de claustrofobia com isso. A gente não é uma máquina perfeita. Fico cansada com essa textura imaculada de tudo. Fiz questão de deixar a voz embargada, a dicção não tão perfeita em uma música que eu sentia que era tão triste que eu jamais poderia cantá-la solar. Você tem que cantar a emoção, acreditar neste personagem.

Terra - Como foi a escolha da faixa de trabalho, Rumo ao Infinito?
Maria Rita - Foi a primeira vez na minha vida que não  escolhi a música de trabalho, foi a gravadora. Fiz uma reunião para mostrar o disco e eu estava totalmente contrariada, eu não estava nem mixando o disco ainda, não tinha uma ordem. E fomos com a cópia de monitor, que é crua ainda. E as músicas estavam em ordem alfabética. Estávamos ouvindo a música na reunião, e quando chegou Rumo ao Infinito, quando acabou a música, todas as 25, 30 pessoas na sala aplaudiram. E eu disse "não acabou o disco”, não era a última.  E o pessoal de vendas e de rádio, que fazem acontecer de fato, ficava perguntando o nome da música. E eu pensei: “é isso aí, se eles não se metem no meu, eu não vou me meter no deles”.

Terra - Quais as suas músicas preferidas no CD?
Maria Rita - É difícil dizer...

Terra - Alguma delas ainda te faz chorar quando você escuta?
Maria Rita - A Rumo ao Infinito e a Mainha me Ensinou. Cada uma tem uma historinha. Todas são as preferidas porque ficaram na peneira. Mas Mainha me Ensinou talvez seja a preferida, porque tem um tom muito pessoal. Rumo ao Infinito me faz chorar pelo desenho melódico. Não é a letra, porque não me identifico com a história.

Terra - O que o público pode esperar da turnê?
Maria Rita - Pode esperar muita bolha no pé, maquiagem derretida, sapato furado, sair melecado do show. Só coisa boa (risos).

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