segunda-feira, 31 de março de 2014

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MARIA RITA GRAVA SAMBISTAS CONTEMPORÂNEOS EM NOVO CD

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Maria Rita pede passagem na abertura do disco Coração a Batucar“Mais uma vez / Aqui estou / Não vou negar / Eu vou representar com todo o meu amor”. A letra de Meu Samba, Sim, Senhor parece fazer coro à declaração da cantora:
– Me encontrei como intérprete no samba.
Em seu sexto trabalho, ela assume de corpo, alma e voz o gênero que já celebrara em Samba Meu (2007). Sete anos após o álbum que vendeu 190 mil cópias e que lhe rendeu o sexto Grammy Latino, a artista se dedica novamente ao samba, registrando 13 faixas de compositores contemporâneos como Arlindo Cruz, Xande de Pilares, Serginho Meriti, Marcelinho Moreira e Rodrigo Maranhão.
– Me sinto completa no samba. Tenho uma relação muito forte desde sempre. Brinco que minha relação é intrauterina: desde criança, acompanho desfiles de escolas de samba, escutava bandas populares de samba, como Grupo Raça. Me lembro de fazer o dever de casa escutando samba – revelou Maria Rita à reportagem de ZH na última terça-feira, em entrevista em um charmoso hotel no alto de Santa Tereza, bairro boêmio carioca que encarna a renovação do samba e que serviu de cenário para as fotos do encarte de Coração a Batucar.
Em pouco mais de uma década de carreira, a paulista de 36 anos firmou-se como uma artista de personalidade forte e luz própria. Desde o estouro com o álbum de estreia em 2003, que vendeu mais de 1 milhão de cópias, Maria Rita vem demonstrando sobriedade ao lidar com o êxito e com o peso da herança materna. Em Coração a Batucar, a filha de Elis Regina alardeia a vocação de sambista: “Eu não nasci no samba / Mas o samba nasceu em mim”, canta em É Corpo, É Alma, É Religião, parceria de Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto.
– Tenho uma ligação absurda no palco com bateria e percussão. Preciso ficar de olho nesses músicos. Comentei isso com o Davi (Moraes, guitarrista e marido de Maria Rita),e ele disse: “É porque você tem uma facilidade incrível com harmonia, ela vem para você com uma naturalidade assustadora”– explicou a vocalista.
Coração a Batucar replica a dinâmica de Samba Meu: o disco começa e termina com sambas alto-astral, em clima de pagode, com letras cujo tema é o próprio gênero; no meio, sambas-canções mais lentos refletem sobre o amor e a vida. Maria Rita recuperou Saco Cheio, sucesso nas rodas de samba originalmente cantado por Almir Guineto (“Tudo o que se faz na Terra / Se coloca Deus no meio / Deus já deve estar de saco cheio”), e gravou No Meio do Salão, espécie de versão feminina da antológica Sem Compromisso, de Geraldo Pereira: “Você se atreve / Dançar com outra por quê?”. A intérprete registrou tanto canções escritas para ela – Meu Samba, Sim, Senhor e É Corpo, É Alma, É Religião – quanto composições esquecidas no fundo da gaveta – Vai, Meu Samba, de Noca da Portela e Sergio Fonseca, inédita há 20 anos, mas que soa familiar como um clássico já na primeira audição.
– A história de No Mistério do Samba é um mistério: o diretor artístico Paul Ralphes me ligou dizendo que tinha pedido uma música para a Joyce Moreno. Fiquei de cara, porque ele não tinha me consultado antes! Ela disse que iria ver se tinha algo e, no dia seguinte, mandou essa canção. Até hoje não sei se ela já tinha esse samba ou se escreveu especialmente para mim, o que seria um luxo absurdo, né? É o mistério do samba! – brinca Maria Rita a respeito de um dos pontos altos do álbum, um tema cuja poesia celebra: “Nasci pela graça de Deus / Num país que tem samba / E o samba / É o grande presente que a vida me deu”.
Toda essa reverência, porém, não compromete a singularidade da nova empreitada de Maria Rita. Se em Samba Meu a cantora não escondia o desbunde com um mundo musical do qual se aproximava de mansinho – levada, segundo ela, pelas mãos de “nativos” como Mart’nália e Arlindo Cruz –, em Coração a Batucar a intérprete deixa evidente sua marca sem pudores. Os arranjos de Jota de Moraes acrescentam o toque de requinte instrumental já característico. Tudo, no entanto, sem afetação. Executados pela banda formada por Davi Moraes (guitarra), Alberto Continentino (baixo), Wallace Santos (bateria), Rannieri Oliveira (teclados) e Marcelinho Moreira e André Siqueira (percussão), os sambas de Maria Rita preferem o fundo do quintal à sala de estar.
* Roger Lerina viajou ao Rio a convite da Universal Music
CORAÇÃO A BATUCAR
Maria Rita
Samba, Universal Music, 13 faixas,
R$ 25 em média (disponível no iTunes; nas lojas, está em pré-venda com chegada prevista para abril)
FONTE | ZERO HORA

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